Texto 3 – Política de Turismo Rural nos dias de hoje: Em terras do interior quem tem wifi é rei. Meu wifi, minha vida na roça. Série Política de Turismo, por Eduardo Mielke.

Se o Governo Federal deseja que o homem do campo permaneça lá, é melhor instalar para a garotada uma anteninha de wifi na roça. Essa é uma grande estratégia que deve fazer parte das políticas de desenvolvimento.

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Uma das coisas mais impactantes da era pós-industrial foi sem dúvida nenhuma, a migração do homem do campo para a cidade. Um clássico da literatura histórica que estuda as movimentações sociais, crescemos ao longo dos últimos século acompanhando as estatísticas que, censo após censo, referendavam aquilo que se percebia nas ruas e que o homem sempre buscou. Melhorar a sua condição de renda e emprego, propiciando assim dar a sua família mais conforto justamente aquele entregue como produto da modernidade, e oportunidades de trabalho e estudo para seus descendentes.

A partir nos anos 90 muitos estudos foram levados a cabo, a fim de entender o que as teorias diziam do “Novo Rural”. E outras palavras, tais análises mostravam que de forma antagônica àquele movimento anterior, fruto dos impactos negativos que a vida densa e tensa nas cidades traziam e trazem. Violência, gente, muita gente, stress, falta disso e daquilo. A partir desta percepção o interior se reinventou com uma gama de novas oportunidades como por exemplo os serviços. A busca pelo bucólico, pelas tradições e pela vida mais tranquila caíram como uma luva ao desenvolvimento do turismo rural.

Não é coincidência que este segmento tem crescido muito a partir justamente dos anos 80. Hoje é difícil um grande centro urbano não dispor no seu entorno de atrativos (que podem ser naturais, culturais e ou artificiais – feitos pelo homem) e equipamentos turísticos (ex: meios de hospedagem e restaurantes). São as Rotas….do Vinho..do Pinhão…do Café…dos Imigrantes e por aí vai. Este segmento turístico emprega mão de obra local, familiar, usa produtos e insumos locais com sotaque local. Resgata a culinária a tradições locais. Quando bem otimizados, são verdadeiramente instrumentos de desenvolvimento local com um discurso consistente de sustentabilidade, garantindo a permanência das próximas gerações no campo.

Porém, nos últimos 6-7 anos tenho percebido que a maioria dos PROJETOS DE TURISMO RURAL independente da Unidade Federal onde se aplicam tem enfrentado grandes dificuldades com a continuidade de um dos itens mais fundamentais para a sequencia de qualquer iniciativa turística: a escassez de mão de obra. E não é de encontrar empregados não. Seguindo o mesmo exemplo do primeiro parágrafo as novas gerações herdeiras daqueles equipamentos não estão mais a fim de seguir no campo, trabalhando com suas famílias nos empreendimentos familiares. O motivo é simples: não há wifi na roça. Na escola rural ou na cidadezinha tem, mas não em casa. Na era da conexão total sem freios e limites as oportunidades de se socializar, muito mais do que trabalhar, estão onde a internet está. O fato das pessoas na roça terem melhores chances de encontrar trabalho não é mais o fator limitante do indivíduo ali permanecer. O que importa é se tem wifi. Ou melhor, na roça, o que se houve Minha Vida é Meu Wifi.

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